BRONISLAW MALINOVISKI

KULA

O Kula é uma extensa forma de comercio de caráter intertribal praticada por comunidades localizadas em um largo anel de ilhas, formando um circuito fechado. Ao longo dessa rota, duas espécies de artigos - e apenas essas - viajam constantemente em direções opostas. Uma delas - os longos colares de conchas vermelhas denominados soulava - segue no sentido dos ponteiros do relógio. A outra - os braceletes de conchas brancas denominados mwali - segue no sentido oposto. Todos os movimentos dos artigos do Kula, todos os detalhes de cada transação são fixados e regulamentados por um conjunto de regras e convenções tradicionais, sendo que alguns atos são acompanhados de elaborados rituais e cerimônias públicas.
O aspecto fundamental do Kula é essa troca cerimonial dos dois artigos. Mas encontramos uma enorme quantidade de traços e atividades secundárias que lhe são associadas e realizadas à sua sombra. Assim, lado a lado com a troca cerimonial de braceletes e colares de concha, os nativos desenvolvem também, entre uma ilha e outra, intensas formas de interação e de trocas de grande variedade de bens considerados indispensáveis mas impossíveis de serem obtidos no distrito para o qual são importados.
Muitas atividades preliminares estão intimamente ligadas ao Kula, particularmente a construção de canoas, a preparação do equipamento, a estocagem de provisões para a expedição, o estabelecimento de datas e a organização social do empreendimento. Portanto, o Kula é uma instituição extremamente grande e complexa, tanto na sua extensão geográfica quando na multiplicidade de propósitos envolvidos. Ele vincula um numero considerável de tribos e abrange um vasto complexo de atividades interligadas e desenvolvidas uma dentro da outra, de modo a formar um todo orgânico.
Aqui apresentamos apenas uma dimensão muito geral do Kula se olharmos na intensa descrição etnográfica que Malinowski elabora em 'Os Argonautas do Pacifico Ocidental', entretanto já nos possibilita um entendimento da raiz histórica do termo Kula e assim situá-lo no contexto adotado.
O kula é uma forma de troca de caráter intertribal praticadas por comunidades localizadas num extenso conjunto de ilhas do norte ao leste e extremo oriental da Nova Guiné descrito pelo antropólogo Bronislaw Malinowski. Reunindo milhares de pessoas de dezoito comunidades Massim, um arquipélago onde se inclui as ilhas trobiand.  
     Segundo Malinowski - que documentou entre 1914 e 1918, essa prática de navegação e encontro ritual por um circuito pré-determinado por tradição - os participantes do Kula viajavam centenas de quilômetros de canoa transportando os vaigua'a (objetos de valors). Os colares de conchas vermelhas chamados soulava vinham no sentido horário desse círculo e na direção oposta (anti-horário) eram transportados os braceletes feitos de conchas brancas chamados mwali encontrando-se em dado momento para realizar o ritual da troca.           
  Aquele que recebia um colar soulava, estava obrigado a corresponder com um bracelete mwalli e vice-versa. As condições para a participação no circuito de troca variavam de região para região. Os principais objetos de transações do Kula – os braceletes de conchas (mawli) feitos com a parte superior e extremidade delgada da concha de um grande caramujo e os colares (souvala) feitos do nácar da ostra espinhosa vermelha segundo Malinowski são muito cobiçados por todos os papua – melanésios, ambos usados como enfeites com os trajes de dança mais elaborados nas grandes ocasiões festivas, nas danças cerimoniais e nas grandes reuniões que participam os nativos de várias aldeias.      

 Malinowski foi um dos primeiros antropólogos a propor uma interpretação teórica seguida ao trabalho de campo. Para esse autor acima do valor estético e advindo do trabalho empregado na confecção dos objetos dessa troca ritual está a oportunidade, que esta proporciona, de se estabelecer relações sociais e ganhar prestígio social. Os costumes e tradições que acompanham esta troca de presentes é cuidadosamente pré-escrito no sistema cultural das pessoas nele envolvidas, especialmente no que diz respeito as relações doador–receptor/receptor-doador. A aliança de doações implica relações de correspondência, hospitalidade, proteção e assistência mútua. Os líderes mais importantes do Kula podem ter centenas de parceiros em troca, enquanto os homens com menor status na sociedade têm geralmente uma dúzia deles, dependendo do tamanho de suas redes sociais.


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