JAMES FRAZER

O Escopo da Antropologia Social, 1908

O tema da cadeira que tenho a honra de ocupar é Antropologia Social. Embora possa parecer estranho, foi a Antropologia, ou a Ciência do Homem, a última a nascer na ampla e florescente família das ciências.
A antropologia, no sentido mais amplo da palavra, visa a descobrir as leis gerais que regularam a história humana no passado e que, se a natureza for realmente uniforme, é de se esperar que a regulem no futuro.
Já a ciência do homem coincide, numa certa medida, com o que há muito tem sido conhecido como a filosofia da história, bem como com o estudo ao qual, nos últimos anos, foi dado o nome de Sociologia.  Na verdade, poder-se-ia sustentar, com alguma razão, que a Antropologia Social, ou o estudo do homem em sociedade, é apenas uma outra expressão para Sociologia. No entanto, penso que as duas ciências podem ser convenientemente distinguidas e que, enquanto o nome Sociologia deve ser reservado para o estudo da sociedade humana no mais abrangente sentido das palavras, o nome Antropologia Social pode, com vantagem, ser restringido a um departamento particular daquele imenso campo de conhecimento.
Posso falar apenas sobre o que estudei, e meus estudos, em sua maior parte, estiveram limitados a uma parcela pequena, muito pequena, da história social do homem. Essa parcela corresponde à origem, ou melhor, às fases rudimentares, à infância e à meninice da sociedade humana, e a ela, portanto, proponho que se restrinja o escopo da Antropologia Social ou, de qualquer modo, meu tratamento dela.
Mas, se vocês desejam fazer em pedaços o tecido social, não devem esperar a cumplicidade de seu professor de Antropologia Social. Ele não é nenhum vidente para adivinhar, nenhum profeta para antecipar um próximo céu na terra, nenhum charlatão com um remédio para curar todos os males, nenhum Cavaleiro da Cruz Vermelha para dirigir uma cruzada contra a miséria e a necessidade, a doença e a morte, contra todos os horrendos espectros que fazem guerra à pobre humanidade.
Ele é apenas um estudante, um estudante do passado que talvez lhes possa dizer um pouco, muito pouco, do que já foi, mas que não pode, não ousa, lhes dizer o que tem que ser.
Ainda existem, creio, na sociedade civilizada, pessoas que sustentam que a terra é plana e que o sol gira ao seu redor; mas nenhum homem sensato perderá seu tempo na vã tentativa de convencer tais pessoas de seu erro, muito embora esses aplana- dores da terra e giradores do sol apelem, com perfeita justiça, para a evidência de seus sentido sem apoio a sua alucinação, algo que os oponentes da primitiva selvageria do homem não são capazes de fazer.
Antropologia Social, seu terreno pode ser grosseiramente dividido em dois departamentos, um dos quais abrange os costumes e crenças dos selvagens, enquanto o outro inclui aquelas relíquias desses costumes e crenças tal como sobreviveram no pensamento e nas instituições de povos mais cultos. O primeiro departamento pode ser chamado o estudo da selvageria, e, o outro, o estudo do folclore.

O estudo da Antropologia Social tenta traçar a história antiga do pensamento e das instituições humanas. A história nunca pode ser completa, a menos que a ciência venha a descobrir algum modo de ler os registros desbotados do passado, coisa com a qual esta geração mal consegue sonhar. Sabemos, na verdade, que todo evento, por mais insignificante, implica uma mudança, por mais leve que seja, na constituição material do universo, de modo que a história completa do mundo está, num certo sentido, gravada sobre sua face, embora nossos olhos estejam muito embaçados para conseguir ler o pergaminho.



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